Amor
Não
bastam beijos, gestos de ternura,
Nem doces
laços presos à ilusão.
O amor
resiste ao tempo e à amargura,
Revela a
luz na sombra e escuridão.
Na dor é
forte e mostra seu valor,
Em frio
ou fogo, sempre há de existir.
Na
confiança expande seu calor,
E faz na
fé a vida reflorir.
Paixão é
chama, vento a leva embora,
Fulgor
que brilha e cedo se desfaz.
O amor,
porém, sustenta e revigora.
Nos dá
abrigo e nunca é fugaz,
É sol
eterno, em paz ou em tormenta,
Na dor
renasce e nunca se lamenta.
FERNANDES, Osmar Soares. Amor. Recanto das Letras, 3 jul. 2020. Disponível em:
https://www.recantodasletras.com.br/sonetos/6995206.
Acesso em: 21 fev. 2025.
Introdução
A poesia tem sido, ao longo da história, um dos meios mais sublimes para expressar os sentimentos humanos, e o soneto, em especial, exige rigor métrico e harmonia na composição. No soneto "Amor", o professor e poeta Osmar Soares Fernandes apresenta uma reflexão profunda sobre a diferença entre o amor verdadeiro e a paixão efêmera, explorando a resistência do primeiro diante das adversidades da vida.
Com uma estrutura clássica e um esquema de rimas bem elaborado, Fernandes destaca a natureza inabalável do amor, contrastando-o com a fugacidade da paixão. Utilizando recursos estilísticos como metáforas, antíteses e personificações, o autor constrói uma mensagem atemporal que exalta a força do amor, capaz de superar desafios e permanecer inalterado mesmo diante das tempestades da existência.
Neste estudo, analisaremos a métrica, a estrutura, os recursos linguísticos e a temática do soneto, destacando como cada elemento contribui para a expressividade e a beleza do poema de Osmar Soares Fernandes.
1. Estrutura e Forma
O poema
segue a estrutura clássica do soneto, composto por 14 versos
decassílabos distribuídos em dois quartetos e dois tercetos. O
esquema de rimas utilizado é ABAB ABAB CDC DCD, uma variação comum do
soneto italiano.
2. Temática e Análise
O soneto
aborda a distinção entre amor verdadeiro e paixão efêmera,
destacando a resistência e a profundidade do primeiro, em contraste com a
transitoriedade da segunda.
Primeira estrofe (exposição da ideia central)
O eu
lírico refuta a ideia de que o amor se resume a gestos superficiais:
"Não
bastam beijos, gestos de ternura,
Nem doces laços presos à ilusão."
Aqui, o
poeta sugere que o amor não se sustenta apenas em demonstrações externas, mas é
algo mais profundo e duradouro. O verdadeiro amor persiste mesmo diante da
adversidade:
"O
amor resiste ao tempo e à amargura,
Revela a luz na sombra e escuridão."
O uso de
antíteses ("tempo e amargura", "luz e sombra") reforça a
ideia de que o amor verdadeiro sobrevive às dificuldades.
Segunda estrofe (desenvolvimento do tema)
O amor é
testado pelo sofrimento e pela confiança:
"Na
dor é forte e mostra seu valor,
Em frio ou fogo, sempre há de existir."
A
metáfora do frio e do fogo representa os desafios extremos da vida, e o amor se
mantém firme em ambas as situações. Já no verso:
"Na
confiança expande seu calor,
E faz na fé a vida reflorir."
O amor é
associado à confiança e à fé, elementos essenciais para sua permanência.
Primeiro terceto (contraposição entre paixão e
amor)
Aqui, o
poeta diferencia a paixão do amor:
"Paixão
é chama, vento a leva embora,
Fulgor que brilha e cedo se desfaz."
A imagem
da chama levada pelo vento reforça o caráter passageiro da paixão. O brilho
efêmero sugere um entusiasmo que logo desaparece.
Último terceto (conclusão e exaltação do amor
verdadeiro)
O amor,
por outro lado, é apresentado como duradouro e restaurador:
"Nos
dá abrigo e nunca é fugaz,
É sol eterno, em paz ou em tormenta,
Na dor renasce e nunca se lamenta."
A
metáfora do "sol eterno" reforça a constância e a luz do amor, que
permanece tanto na paz quanto na adversidade. O último verso encerra com uma
imagem de resiliência e plenitude.
3. Figuras de Linguagem
O poema
utiliza diversas figuras de linguagem para enriquecer sua mensagem:
- Antítese: “luz e sombra”, “frio ou
fogo”, “em paz ou em tormenta” – cria contraste entre os desafios e a
permanência do amor.
- Metáfora: “Paixão é chama, vento a
leva embora” – compara a paixão a uma chama volátil.
- Personificação: “O amor resiste”, “faz na
fé a vida reflorir” – atribui ações humanas ao amor.
- Comparação implícita: “É sol eterno” – o amor é
comparado ao sol, enfatizando sua permanência.
4. Conclusão
O soneto
exalta o amor verdadeiro como um sentimento inabalável, contrastando-o com a
paixão, que é passageira. O uso de imagens naturais, como o sol e o vento,
reforça essa ideia. A musicalidade e a escolha precisa das palavras tornam o
poema harmonioso e impactante.
Contagem silábica de cada verso do soneto, seguindo a
métrica poética, que considera a contagem até a última sílaba tônica
e a sinalefa
(fusão de vogais entre palavras):
Primeira estrofe
- Não bas-tam bei-jos, ges-tos
de ter-nu-ra (10
sílabas)
- Nem do-ces la-ços pre-sos à
i-lu-são. (10
sílabas)
- O a-mor re-sis-te ao tem-po
e à a-mar-gu-ra, (10
sílabas)
- Re-ve-la a luz na som-bra e
es-cu-ri-dão. (10
sílabas)
Segunda estrofe
- Na dor é for-te e mos-tra
seu va-lor, (10
sílabas)
- Em fri-o ou fo-go, sem-pre
há de ex-is-tir. (10
sílabas)
- Na con-fi-an-ça ex-pan-de
seu ca-lor, (10
sílabas)
- E faz na fé a vi-da
re-flo-rir. (10
sílabas)
Primeiro terceto
- Pai-xão é cha-ma, ven-to a
le-va em-bo-ra, (10
sílabas)
- Ful-gor que bri-lha e ce-do
se des-faz. (10
sílabas)
- O a-mor, po-rém, sus-ten-ta
e re-vi-go-ra. (10
sílabas)
Último terceto
- Nos dá a-bri-go e nun-ca é
fu-gaz, (10
sílabas)
- É sol e-ter-no, em paz ou em
tor-men-ta, (10
sílabas)
- Na dor re-nas-ce e nun-ca se
la-men-ta. (10
sílabas)
O que são sinalefas?
A sinalefa
ocorre quando duas vogais pertencentes a palavras diferentes são pronunciadas
juntas como uma única sílaba. Isso impacta a contagem silábica dos versos.
Agora,
vou destacar as sinalefas no seu poema e revisar a contagem sílabica com mais
precisão.
Primeira estrofe
- Não bas-tam bei-jos, ges-tos
de ter-nu-ra (10
sílabas)
- Nem do-ces la-ços pre-sos à
i-lu-são.
(**10 sílabas, sinalefa em "à i-lu-são" → ài-lu-são)
- O a-mor re-sis-te ao tem-po
e à a-mar-gu-ra,
(**10 sílabas, sinalefa em "e à" → eà-a-mar-gu-ra)
- Re-ve-la a luz na som-bra e
es-cu-ri-dão.
(**10 sílabas, sinalefa em "e es-cu-ri-dão" → eës-cu-ri-dão)
Segunda estrofe
- Na dor é for-te e mos-tra
seu va-lor,
(**10 sílabas, sinalefa em "e mos-tra" → eë-mos-tra)
- Em fri-o ou fo-go, sem-pre
há de ex-is-tir.
(**10 sílabas, sinalefas em "fri-o ou" → fri-ou e
"sempre há" → sem-preá)
- Na con-fi-an-ça ex-pan-de
seu ca-lor, (10
sílabas)
- E faz na fé a vi-da
re-flo-rir.
(**10 sílabas, sinalefa em "fé a" → féa)
Primeiro terceto
- Pai-xão é cha-ma, ven-to a
le-va em-bo-ra,
(**10 sílabas, sinalefa em "le-va em-bo-ra" → le-vaëm-bo-ra)
- Ful-gor que bri-lha e ce-do
se des-faz.
(**10 sílabas, sinalefa em "brilha e" → bri-lhaë)
- O a-mor, po-rém, sus-ten-ta
e re-vi-go-ra.
(**10 sílabas, sinalefa em "e re-vi-go-ra" → eë-re-vi-go-ra)
Último terceto
- Nos dá a-bri-go e nun-ca é
fu-gaz,
(**10 sílabas, sinalefas em "e nun-ca" → eë-nun-ca e
"é fu-gaz" → é-fu-gaz)
- É sol e-ter-no, em paz ou em
tor-men-ta,
(**10 sílabas, sinalefa em "ou em" → ou-em)
- Na dor re-nas-ce e nun-ca se
la-men-ta.
(**10 sílabas, sinalefa em "e nun-ca" → eë-nun-ca)
O poema
faz uso de várias sinalefas, e elas são essenciais para manter a métrica
decassílaba. Os principais casos encontrados foram:
- "à i-lu-são" → ài-lu-são
- "e à a-mar-gu-ra"
→ eà-a-mar-gu-ra
- "e es-cu-ri-dão" →
eës-cu-ri-dão
- "e mos-tra" → eë-mos-tra
- "fri-o ou" → fri-ou
- "sempre há" → sem-preá
- "fé a" → féa
- "le-va em-bo-ra" →
le-vaëm-bo-ra
- "brilha e" → bri-lhaë
- "e re-vi-go-ra" → eë-re-vi-go-ra
- "e nun-ca" → eë-nun-ca
- "é fu-gaz" → é-fu-gaz
- "ou em" → ou-em
Conclusão
O soneto
segue rigorosamente a métrica decassílaba, mantendo a cadência clássica
dos sonetos. Há o uso correto de sinalefas ("sempre há" → sem-pre
há), o que ajuda a encaixar os versos dentro da métrica sem perder a
fluidez.
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