quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

 



Amor

 

Não bastam beijos, gestos de ternura,

Nem doces laços presos à ilusão.

O amor resiste ao tempo e à amargura,

Revela a luz na sombra e escuridão.

 

Na dor é forte e mostra seu valor,

Em frio ou fogo, sempre há de existir.

Na confiança expande seu calor,

E faz na fé a vida reflorir.

 

Paixão é chama, vento a leva embora,

Fulgor que brilha e cedo se desfaz.

O amor, porém, sustenta e revigora.

 

Nos dá abrigo e nunca é fugaz,

É sol eterno, em paz ou em tormenta,

Na dor renasce e nunca se lamenta.

 

FERNANDES, Osmar Soares. Amor. Recanto das Letras, 3 jul. 2020. Disponível em: https://www.recantodasletras.com.br/sonetos/6995206. Acesso em: 21 fev. 2025.

Introdução

A poesia tem sido, ao longo da história, um dos meios mais sublimes para expressar os sentimentos humanos, e o soneto, em especial, exige rigor métrico e harmonia na composição. No soneto "Amor", o professor e poeta Osmar Soares Fernandes apresenta uma reflexão profunda sobre a diferença entre o amor verdadeiro e a paixão efêmera, explorando a resistência do primeiro diante das adversidades da vida.

Com uma estrutura clássica e um esquema de rimas bem elaborado, Fernandes destaca a natureza inabalável do amor, contrastando-o com a fugacidade da paixão. Utilizando recursos estilísticos como metáforas, antíteses e personificações, o autor constrói uma mensagem atemporal que exalta a força do amor, capaz de superar desafios e permanecer inalterado mesmo diante das tempestades da existência.

Neste estudo, analisaremos a métrica, a estrutura, os recursos linguísticos e a temática do soneto, destacando como cada elemento contribui para a expressividade e a beleza do poema de Osmar Soares Fernandes.

1. Estrutura e Forma

O poema segue a estrutura clássica do soneto, composto por 14 versos decassílabos distribuídos em dois quartetos e dois tercetos. O esquema de rimas utilizado é ABAB ABAB CDC DCD, uma variação comum do soneto italiano.


2. Temática e Análise

O soneto aborda a distinção entre amor verdadeiro e paixão efêmera, destacando a resistência e a profundidade do primeiro, em contraste com a transitoriedade da segunda.

Primeira estrofe (exposição da ideia central)

O eu lírico refuta a ideia de que o amor se resume a gestos superficiais:

"Não bastam beijos, gestos de ternura,
Nem doces laços presos à ilusão."

Aqui, o poeta sugere que o amor não se sustenta apenas em demonstrações externas, mas é algo mais profundo e duradouro. O verdadeiro amor persiste mesmo diante da adversidade:

"O amor resiste ao tempo e à amargura,
Revela a luz na sombra e escuridão."

O uso de antíteses ("tempo e amargura", "luz e sombra") reforça a ideia de que o amor verdadeiro sobrevive às dificuldades.

Segunda estrofe (desenvolvimento do tema)

O amor é testado pelo sofrimento e pela confiança:

"Na dor é forte e mostra seu valor,
Em frio ou fogo, sempre há de existir."

A metáfora do frio e do fogo representa os desafios extremos da vida, e o amor se mantém firme em ambas as situações. Já no verso:

"Na confiança expande seu calor,
E faz na fé a vida reflorir."

O amor é associado à confiança e à fé, elementos essenciais para sua permanência.

Primeiro terceto (contraposição entre paixão e amor)

Aqui, o poeta diferencia a paixão do amor:

"Paixão é chama, vento a leva embora,
Fulgor que brilha e cedo se desfaz."

A imagem da chama levada pelo vento reforça o caráter passageiro da paixão. O brilho efêmero sugere um entusiasmo que logo desaparece.

Último terceto (conclusão e exaltação do amor verdadeiro)

O amor, por outro lado, é apresentado como duradouro e restaurador:

"Nos dá abrigo e nunca é fugaz,
É sol eterno, em paz ou em tormenta,
Na dor renasce e nunca se lamenta."

A metáfora do "sol eterno" reforça a constância e a luz do amor, que permanece tanto na paz quanto na adversidade. O último verso encerra com uma imagem de resiliência e plenitude.


3. Figuras de Linguagem

O poema utiliza diversas figuras de linguagem para enriquecer sua mensagem:

  • Antítese: “luz e sombra”, “frio ou fogo”, “em paz ou em tormenta” – cria contraste entre os desafios e a permanência do amor.
  • Metáfora: “Paixão é chama, vento a leva embora” – compara a paixão a uma chama volátil.
  • Personificação: “O amor resiste”, “faz na fé a vida reflorir” – atribui ações humanas ao amor.
  • Comparação implícita: “É sol eterno” – o amor é comparado ao sol, enfatizando sua permanência.

4. Conclusão

O soneto exalta o amor verdadeiro como um sentimento inabalável, contrastando-o com a paixão, que é passageira. O uso de imagens naturais, como o sol e o vento, reforça essa ideia. A musicalidade e a escolha precisa das palavras tornam o poema harmonioso e impactante.

Contagem silábica de cada verso do soneto, seguindo a métrica poética, que considera a contagem até a última sílaba tônica e a sinalefa (fusão de vogais entre palavras):

Primeira estrofe

  1. Não bas-tam bei-jos, ges-tos de ter-nu-ra (10 sílabas)
  2. Nem do-ces la-ços pre-sos à i-lu-são. (10 sílabas)
  3. O a-mor re-sis-te ao tem-po e à a-mar-gu-ra, (10 sílabas)
  4. Re-ve-la a luz na som-bra e es-cu-ri-dão. (10 sílabas)

Segunda estrofe

  1. Na dor é for-te e mos-tra seu va-lor, (10 sílabas)
  2. Em fri-o ou fo-go, sem-pre há de ex-is-tir. (10 sílabas)
  3. Na con-fi-an-ça ex-pan-de seu ca-lor, (10 sílabas)
  4. E faz na fé a vi-da re-flo-rir. (10 sílabas)

Primeiro terceto

  1. Pai-xão é cha-ma, ven-to a le-va em-bo-ra, (10 sílabas)
  2. Ful-gor que bri-lha e ce-do se des-faz. (10 sílabas)
  3. O a-mor, po-rém, sus-ten-ta e re-vi-go-ra. (10 sílabas)

Último terceto

  1. Nos dá a-bri-go e nun-ca é fu-gaz, (10 sílabas)
  2. É sol e-ter-no, em paz ou em tor-men-ta, (10 sílabas)
  3. Na dor re-nas-ce e nun-ca se la-men-ta. (10 sílabas)

O que são sinalefas?

A sinalefa ocorre quando duas vogais pertencentes a palavras diferentes são pronunciadas juntas como uma única sílaba. Isso impacta a contagem silábica dos versos.

Agora, vou destacar as sinalefas no seu poema e revisar a contagem sílabica com mais precisão.


Primeira estrofe

  1. Não bas-tam bei-jos, ges-tos de ter-nu-ra (10 sílabas)
  2. Nem do-ces la-ços pre-sos à i-lu-são. (**10 sílabas, sinalefa em "à i-lu-são" → ài-lu-são)
  3. O a-mor re-sis-te ao tem-po e à a-mar-gu-ra, (**10 sílabas, sinalefa em "e à" → eà-a-mar-gu-ra)
  4. Re-ve-la a luz na som-bra e es-cu-ri-dão. (**10 sílabas, sinalefa em "e es-cu-ri-dão" → eës-cu-ri-dão)

Segunda estrofe

  1. Na dor é for-te e mos-tra seu va-lor, (**10 sílabas, sinalefa em "e mos-tra" → eë-mos-tra)
  2. Em fri-o ou fo-go, sem-pre há de ex-is-tir. (**10 sílabas, sinalefas em "fri-o ou" → fri-ou e "sempre há" → sem-preá)
  3. Na con-fi-an-ça ex-pan-de seu ca-lor, (10 sílabas)
  4. E faz na fé a vi-da re-flo-rir. (**10 sílabas, sinalefa em "fé a" → féa)

Primeiro terceto

  1. Pai-xão é cha-ma, ven-to a le-va em-bo-ra, (**10 sílabas, sinalefa em "le-va em-bo-ra" → le-vaëm-bo-ra)
  2. Ful-gor que bri-lha e ce-do se des-faz. (**10 sílabas, sinalefa em "brilha e" → bri-lhaë)
  3. O a-mor, po-rém, sus-ten-ta e re-vi-go-ra. (**10 sílabas, sinalefa em "e re-vi-go-ra" → eë-re-vi-go-ra)

Último terceto

  1. Nos dá a-bri-go e nun-ca é fu-gaz, (**10 sílabas, sinalefas em "e nun-ca" → eë-nun-ca e "é fu-gaz" → é-fu-gaz)
  2. É sol e-ter-no, em paz ou em tor-men-ta, (**10 sílabas, sinalefa em "ou em" → ou-em)
  3. Na dor re-nas-ce e nun-ca se la-men-ta. (**10 sílabas, sinalefa em "e nun-ca" → eë-nun-ca)

O poema faz uso de várias sinalefas, e elas são essenciais para manter a métrica decassílaba. Os principais casos encontrados foram:

  • "à i-lu-são" → ài-lu-são
  • "e à a-mar-gu-ra" → eà-a-mar-gu-ra
  • "e es-cu-ri-dão" → eës-cu-ri-dão
  • "e mos-tra" → eë-mos-tra
  • "fri-o ou" → fri-ou
  • "sempre há" → sem-preá
  • "fé a" → féa
  • "le-va em-bo-ra" → le-vaëm-bo-ra
  • "brilha e" → bri-lhaë
  • "e re-vi-go-ra" → eë-re-vi-go-ra
  • "e nun-ca" → eë-nun-ca
  • "é fu-gaz" → é-fu-gaz
  • "ou em" → ou-em

 

Conclusão

O soneto segue rigorosamente a métrica decassílaba, mantendo a cadência clássica dos sonetos. Há o uso correto de sinalefas ("sempre há" → sem-pre há), o que ajuda a encaixar os versos dentro da métrica sem perder a fluidez.

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